Ana Archangelo

Escola, Comunicação e Sobrevivência

O presente projeto tem a coordenação da Profa Ana Archangelo, mas envolve inúmeros pesquisadores nacionais e estrangeiros. Ele nasce da preocupação com impasses contemporâneos corporificados no interior da escola, e que envolvem a sobrevivência ao sofrimento constituído no viver. Ao adentrar a escola, tais impasses buscam nela novas formas de comunicação e elaboração, e também falam de profundo sofrimento psíquico que se estrutura intrapsiquicamente, porém em interação dinâmica com as dimensões da experiência compartilhada, ou seja, dinâmicas fundamentalmente interpsíquicas e, portanto, sociais. São várias as modalidades de sobrevivência ao sofrimento, a depender de sua extensão e duração no tempo: desde aquela em que a experiência catastrófica permite o desenvolvimento de recursos psíquicos e a expansão das possibilidades de ser, até aquela cujo aspecto letal da catástrofe se instala internamente como letalidade psíquica, capaz de imobilizar áreas inteiras da mente e provocar efeitos mortíferos tanto no ambiente interno quanto no externo. Os sobreviventes dos quais a escola tem notícia podem estar entre os refugiados, as vítimas de exclusão social e de indiferença institucional, os jovens que experimentaram medidas como privação de liberdade; as vítimas de racismo, de preconceitos religiosos, de gênero, de classe; de violência familiar e sexual, de assédio de toda sorte; e, atualmente, entre crianças e jovens que ficaram privados do convívio escolar, perderam amigos e familiares com a pandemia da SARS-CoV-2 (COVID-19) ou que viram suas famílias vivendo com condições mínimas de subsistência material, dentre outros. O educador e a instituição não têm como se esquivar da realidade de que, em muitos casos, lidam com eventos-limite, cenários brutais, próximos àqueles retratados por teóricos e artistas de períodos de guerra. A ousadia do presente projeto está em propor não somente a investigação da sobrevivência em seus estados mais extremos de letalidade, com seus matizes e riscos, mas também possibilidades de intervenção pelos educadores. Lançando mão de repertório oriundo da psicanálise, da história, da filosofia, da sociologia e do cinema, o projeto se vale de elementos conceituais e estéticos para explorar zonas cinzentas do psiquismo e das instituições que configuram o espaço onde as manifestações psíquicas se dão. Conceitos como os de “mudança catastrófica” (BION, 1962) e “turbulência emocional” (BION, 1987), “deprivação e comportamento antissocial” (WINNICOTT, 2005), “dificuldade de comunicação” (WILLIAMS, 1976), “comunicação não-verbal” (BALINT, 1986), bem como elementos estéticos, tais como as 3 visualidades propostas por alguns filmes, a partir de “sistemas relacionais” (SORLIN, 1977) e material empírico coletado anteriormente e em atividades futuras pelos pesquisadores em escolas serão os organizadores iniciais da investigação. Guiada por questões pontuais: "como aprofundar o conceito de sobrevivência, levando-se em conta os diferentes referenciais teóricos, as diferentes modalidades de sobrevivência, sua configuração em diferentes tempos históricos e em diferentes contextos sociais e educacionais?”, “O conceito de sobrevivência tem impacto naquilo que se considera responsabilidade da escola ou tarefa da escola hoje?”, “A sobrevivência do professor em sua relação e comunicação com o aluno permitiria à escola contribuir com a superação de aspectos letais associados à sobrevivência?”, “Qual o limite e o alcance dessa forma de atuação do professor?”, a investigação almeja, ao final dos próximos 24 meses de desenvolvimento do projeto, sistematizar alguns elementos para, no futuro, ousar responder à pergunta: “É possível produzir uma teoria pedagógica orientada pelo conceito de sobrevivência e pela necessidade de ultrapassá-la, de modo a se criarem espaços de aprendizagem que resultem de comunicação significativa, de elaboração do sofrimento, de reapropriação da arte de narrar, de viver e de tornar-se?"

 

 

 

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